
... na sua sabedoria e imaginação.
O Barco de Papel
Era uma vez um barco do papel que se fez ao mar. Barco de papel, no meio do mar…. estão a ver o que lhe aconteceu. Escangalhou-se à primeira onda. E regressou à praia. Estatelado na areia, era uma lástima vê-lo.
Andava por ali um jornalista, coleccionador de desastres e desgraças, que lhe perguntou:
- Senhor barco de papel, como se sente depois da aventura?
O barco, todo amarrotado pelo desespero e a humilhação da derrota, esboçou um sorriso. Um sorriso de papel.
- O que sinto vê-se. Não lhe posso dizer mais nada.
Mas o jornalista insistiu:
- Atribui, porventura, o seu naufrágio a alguma causa em especial?
- À minha pouca prática, apenas – respondeu o barco de papel. – E pode escrever que também à minha falta de vocação.
O jornalista ainda:
- Falta de vocação? Interessante. Nesse caso, se pudesse ter voltado atrás, o que teria feito?
O barco de papel, ou o que dele sobrava, fugiu da pergunta, aproveitando o escorrega de uma onda que descia da praia. Estava muito cansado, o barco de papel.
Mas o jornalista, molhando, os sapatos, correu atrás dele:
- Não chegou a dizer-me, senhor barco de papel… Por favor, o que teria sido se pudesse voltar atrás?
De longe, quase desfeito, o barco respondeu:
- Avião de papel. É evidente.
E hei-de conseguir.
António Torrado, 100 Histórias à Janela, Edições Asa
Sem comentários:
Enviar um comentário